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ALÉM
DA IDADE DA RAZÃO
Longevidade
e saber na ficção brasileira
Carmen Lúcia Tindó Secco
Posfácio: Nélida Piñon
Literatura brasileira - crítica
256 páginas - R$ 46,00
ISBN: 85-85277-10-6
Produto momentaneamente indisponível
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TRECHO
"É
conhecida a discriminação sofrida
pelos velhos, desde a Idade Média,
na maioria das sociedades ocidentais.
Com o advento da modernidade, esse
desprezo intensifica-se, havendo,
conforme assinala Simone de Beauvoir,
uma "conspiração de silêncio" contra
a velhice, pois esta "surge aos
olhos da sociedade como uma espécie
de segredo vergonhoso do qual é
indecente falar."
No
âmbito da crítica literária, encontramos
inúmeros estudos sobre a mulher,
sobre o negro, entre outros grupos
marginalizados. São reduzidos, entretanto,
os trabalhos que analisam como a
literatura opera com a velhice.
Não temos a pretensão de preencher
esse vazio da crítica, porém nos
propomos a iniciar, junto com os
poucos estudos existentes sobre
o velho na ficção brasileira, uma
reflexão sobre o assunto. Não é
nossa intenção, no entanto, examinar
a senescência pela perspectiva das
"minorias oprimidas", mas pela filosofia
proposta por Walter Benjamin principalmente
quando ele reflete acerca da tradição
e da modernidade."
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Antologia
da Poesia Popular de Pernambuco |
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ANTOLOGIA
DA POESIA POPULAR DE PERNAMBUCO
Mário Souto Maior e Waldemar
Valente (organizadores)
Literatura brasileira - Cordel
244 páginas - R$ 55,00
ISBN: 85-85277-34-3
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TRECHO
"Não
esqueço o dia dez
De março de trinta e seis,
Quando Bernardino fez
Os seus versinhos fiéis...
Médicos e bacharéis
Me deram toda atenção,
Nessa mesma ocasião
Disse um doutor, prasenteiro:
O poeta verdadeiro
É o cantador do sertão!
Homens
de grande importância
E de pronúncia legítima
Sabem que o matuto é vítima
Das trevas da ignorância!
Mas em qualquer circunstância
De amor ou separação,
Quem quiser boa canção,
Não procure outro troveiro!
O poeta verdadeiro
É o cantador do sertão!
O
improviso é urgente!
Nos aparece e se esconde...
Chega, ninguém vê
por onde,
Passa que ninguém sente...
Por isso um vulto excelente,
De correta educação,
Em tom de admiração,
Nos diz sorrindo e faceiro:
O poeta verdadeiro
É o cantador do sertão!
Quem
compra o mundo é dinheiro,
Somos cativos do agrado,
Tempo bom foi o passado,
Dos amores o primeiro,
Planta linda é o craveiro,
Votos, só de gratidão,
Sentir, o do coração!
No meu país brasileiro,
O poeta verdadeiro
É o cantador do sertão!.."
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A
Arte de Viver e Outras Artes |
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A
ARTE DE VIVER E OUTRAS ARTES
Cadernos de João, ensaios, crítica
dispersa, auto-retrato
Aníbal M. Machado
Apresentação: Leandro Konder
Ensaios - interpretação
332 páginas - R$ 60,00
ISBN: 85-85277-09-2
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TRECHO
"Esse
aglomerado de ossos, vísceras e
humores, esse complexo de fibras
excitáveis e depósito de memórias
- é menos unidade orgânica do que
passagem de fluidos, folhas da grande
árvore cósmica que liga céus e terra,
espírito e sangue, espaço de dentro
e espaço de fora em viva transmutação
de forças com o Universo.
Ninguém precisa sair de si para
participar do ilimitado. Cada qual
está perto do longe e contém o todo,
como a gota de água é mar dentro
do mar.
Basta
- dizia Blake - que estejam limpas
as portas da percepção para que
as coisas apareçam tais como são:
infinitas."
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A OFICINA
Luciana Viégas
Literatura brasileira - ficção
156 páginas - R$ 44,00
ISBN: 978-85-85277-61-1
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TRECHO
"Ele viu Anna Magnani próximo ao Tabuleiro da Baiana,
que era como chamavam o ponto final por onde
os bondes que vinham das Águas Férreas arrodeavam, atrás
do Liceu de Artes e Ofícios, dois ou três quarteirões afastado
do Teatro Municipal, pouco depois da Cinelândia. O busto
espetado acima da cintura que mais estufava o contorno das
coxas, equilibradas sobre sapatos pontudos de salto, era ela,
ligeiramente mais alta do que a maioria, olhou novamente,
evidente que os inquietos olhos negros naquele rosto sardento,
as sobrancelhas afi ladas, olhos geniosos afrontando os bons
modos dos imigrantes que carecem de aceitação, não seriam
de outra, e mais uma olhada para as sacolas que carregavam,
observou que a seguia uma velha, e ela fez com que a velha
subisse primeiro no lotação, vê-se então que seria a mãe pelo
zelo com que se tratavam, e ele, estatelado, jamais se esqueceu
do que sentiu quando viu Anna Magnani, em seu vestido de
linho amarelo com debruns brancos, ir embora. Era a vida que
começava, quis pensar, atropelado pela suspeita de que, para
quem está sempre de partida, a vida nem começa nem acaba,
raio de graça e desgraça, deuses e homens nascidos do comichão
desta risada, aquilo era uma mulher." |
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CATAS
DE ALUVIÃO
Do Pensar e do Ser em Minas
Affonso Ávila
Literatura brasileira - história e crítica
312 páginas - R$ 60,00
ISBN: 85-85277-29-7
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TRECHO
"É
sempre um pouco difícil falar de
si mesmo, mas eu vou contar a vocês
um pouco de minha vida, o que posso
chamar "a minha trajetória", desde
a adolescência literária até agora,
até esta maturidade. Espero poder,
com isso, oferecer alguma coisa
que auxilie não só a compreender
o meu trabalho, mas a compreender
como uma pessoa, um escritor, se
forma e vai realizando a sua vida
no dia-a-dia, no passo a passo da
criação. Eu comecei a escrever muito
jovem, aos treze, quatorze anos
já escrevia. Escrevia essas coisas
que geralmente todo mundo que começa
escreve, mas tinha uma curiosidade
muito grande por tudo e, embora
tenha lutado muito em minha vida,
com um começo de vida muito duro,
trabalhando e estudando desde onze
anos de idade, sempre tive atração
pela literatura. Isso, não obstante
eu não desfrutasse em minha casa
de nenhum estímulo imediato para
essa vocação, esse interesse, a
não ser, talvez, uma tendência de
sensibilidade, herdada de família,
de meus avós que eram artistas,
ambos músicos, um compositor e maestro,
o outro instrumentista. Meu avô
materno era homem de forte pendor
para as coisas do espírito, pessoa
bastante inteligente. De meu avô
paterno não posso falar muito porque
não cheguei a conhecê-lo. Ele morreu,
lamentavelmente, assassinado, quando
meu pai era criança, deixando pouca
memória, mas em nosso sangue a marca
da ascendência espanhola. Meu avô
materno viveu a vida quase toda
na cidadezinha de Ituverava, nosso
lugar de origem, onde mantinha uma
pequena orquestra e dominava, por
assim dizer, a vida cultural da
localidade, para ele ligada em informação
ao resto do mundo pela leitura freqüente
de jornais do Rio de Janeiro e de
São Paulo. A imagem mais viva que
guardo dele - eu ainda bem pequeno
e ele já idoso e morando em Belo
Horizonte - é a de vê-lo na varanda
e de sua casa, sentado numa cadeira
de balanço, sempre lendo. Sou propenso
a acreditar que o fator ancestral
tenha, de algum modo, influído na
minha inclinação literária."
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CERTO
OU ERRADO? -
Atitudes
e crenças no ensino da língua portuguesa
Emmanoel dos Santos
Língua portuguesa estudo e ensino
128 páginas - R$ 46,00
ISBN: 85-85277-16-5
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TRECHO
"A
Lingüística pode oferecer alguma
colaboração ao professor interessado
em trocar preconceitos e crenças
sem compromissos com a realidade
por conhecimentos a respeito" da
língua tão objetivos quanto possível.
Alguns problemas são levantados
aqui, como a relação entre a realidade
da língua oral e a realidade da
língua escrita. Há dominância de
uma em relação `a outra? Até onde
vão os graus de interferência? Há
harmonia no encontro dos dois espaços?
Há entre elas alguma relação de
precedência? É satisfatória a visão
que a tradição escolar tem do fenômeno?
O problema central é o da heterogeneidade
lingüística, a variação inerente
a qualquer língua natural. Uma língua
em uso em uma comunidade múltipla
em vários aspectos necessariamente
apresenta-se também diversificada?
Uma língua tem uma só norma ou tem
várias normas? O ensino da língua
materna leva em conta a multiplicidade
de usos? Os manuais escolares apresentam
a língua como ela é? Levam os alunos
a ver a variação como elemento positivo,
negativo ou neutro?"
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O
CHEIRO DE COISA VIVA -
Entrevistas,
reflexões dispersas e um romance inédito:
O Estadista
Dyonelio Machado
Introdução, seleção e notas: Maria Zenilda
Grawunder
Ficção brasileira - biografia
300 páginas - R$ 60,00
ISBN: 85-85277-13-0
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TRECHO
"Faz
dezessete dias que foi proferida
a sentença, condenando-me ao grau
submédio da pena, ou seja, a dez
meses e meio de prisão, e até agora
o juiz não teve oportunidade de
resolver sobre o sursis impetrado
a meu favor.
A
velha aspiração popular de uma justiça
rápida continua sendo, apesar de
todos os esforços, às vezes extremos
para a materializar, um simples
sonho ingênuo do nosso povo, sonho
que não morrerá porque não estão,
felizmente, perdidas todas as esperanças.
Ponto
importante de um movimento revolucionário
triunfante o de 30
que logo ficou esquecido, mal se
apossaram do poder aqueles que,
durante a campanha de propaganda,
tanto o preconizavam e defendiam.
A justiça é para a sociedade o que
a medicina é para o indivíduo. Ela
é um remédio social, de que depende
a saúde dum todo. Qualquer decisão
jurídica representa um beneficio
para a comunidade, benefício que
se confunde com a própria vida
por isso que ela é
composta de indivíduos e tudo quanto
respeita a um deles diz igualmente
respeito a todos. A sociedade tem
tanto interesse em punir como em
absolver. A justiça é, pois, uma
assistência prestada à sociedade,
em tudo comparável à assistência
que o médico consagra aos seus pacientes.
Ora, imagine-se o que seria, na
esfera
individual, uma medicina tardia,
chegando fora de tempo, fora de
toda oportunidade."
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COMPARSAS DO RISO
Bernardo de Mendonça
Ilustrações de Andréia Resende
Literatura infanto - juvenil
32 páginas - R$ 34,00
ISBN: 978-85277-55-0
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TRECHO
“Quem deu a primeira risada? E de quê, de quem, riu de si?
Por que é que um homem ri?
A primeira destas perguntas
passo adiante porque não sei.
Mas digo que um homem ri
não porque seja um bobo;
tudo indica valha o inverso:
bobo por certo é quem não ri.
Agora, de que ri um homem
é mais difícil responder
e não por faltarem respostas
como quero mostrar aqui.
Saberá muito de alguém
quem souber bem do que sorri.
Há quem ria dos muito humildes,
dos solitários ou dos tristes.
E há quem deboche dos reis,
dos mais imbecis na soberba,
dos poderosos pelas armas
ou pelo dinheiro que têm.
Sim, saberá muito de alguém
quem souber bem do que sorri.
” |
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DE
CORPO E ALMA
Catolicismo,
classes sociais e conflitos no campo
Regina Reyes Novaes
Trabalhadores rurais - Brasil
248 páginas - R$ 47,00
ISBN: 85-85277-20-3
Produto momentaneamente indisponível.
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TRECHO
"As
religiões se apresentam como as
principais fontes doadoras de sentido
para a vida. As concepções religiosas,
na verdade, ultrapassam as fronteiras
do contexto especificadamente religioso,
fornecendo um arcabouço de idéias
que dão forma significativa a uma
parte da experiência intelectual,
emocional e moral (Geertz, 1978:140).
O objetivo deste livro é compreender
o lugar ocupado pela religião no
processo de construção de identidades
políticas entre os trabalhadores
do campo que se mobilizam para ter
acesso ao uso, posse e propriedade
da terra.
No Brasil, de modo geral, são católicos
tanto os trabalhadores do campo
que desejam a terra, quanto os latifundiários
ou empresários rurais que a monopolizam.
Reconhecendo-se como católicos,
partilham de elementos de fé, da
valorização dos sacramentos e do
reconhecimento da hierarquia eclesiástica.
Porém, embora façam parte do mesmo
corpo de fiéis, trazem para a vivência
da religião suas experiências culturais
e as marcas de suas diferentes posições
na estrutura social. É por isso
que, em situações de conflitos sociais,
quando proprietários e trabalhadores
se tornam opositores, cada lado
pode se apropriar das mesmas crenças
e símbolos católicos ao seu favor.
Certamente, como ocorre nas cidades,
entre os trabalhadores do campo
estão também presentes outras crenças
religiosas. Isto é , também na área
rural o protestantismo histórico,
o pentecostalismo, as religiões
afro-brasileiras e outras alternativas
religiosas se fazem cada vez mais
visíveis. Ainda assim - transnacional,
hierárquica e sacramental - a Igreja
Católica continua sendo a religião
dominante no país. Pode-se dizer
que há uma "cultura brasileira católica"
que se expressa tanto no catolicismo
cotidianamente vivido pela maioria
da população, quanto em termos da
legitimidade para interpretar moralmente
o estado e a Sociedade."
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Desaparecimento
da Infância, O |
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O
DESAPARECIMENTO DA INFÂNCIA
Neil Postman
Tradução: Suzana C. Menescal e José Laurênio
de Melo
Ensaio - teoria da comunicação
192 páginas - R$ 55,00
ISBN: 85-85277-30-0
|
TRECHO
"Realmente,
este livro nasceu da minha percepção
de que a idéia de infância está
desaparecendo, e numa velocidade
espantosa. Parte da minha tarefa
nas páginas que se seguem consiste
em apresentar provas dessa observação,
embora desconfie de que a maioria
dos leitores não precisa de muito
para se convencer disso. Aonde quer
que eu tenha ido falar ou todas
as vezes em que escrevi sobre o
tema do desaparecimento da infância,
tanto os ouvintes quanto os leitores
não só se abstiveram de contestar
a proposição como prontamente me
apoiaram com testemunhos procedentes
de sua própria experiência. A percepção
de que a linha divisória entre a
infância e a idade adulta está se
apagando rapidamente é bastante
comum entre os que estão atentos
e é até pressentida pelos desatentos.
O que não é tão bem entendido é,
em primeiro lugar, de onde vem a
infância e, ainda menos, por que
estaria desaparecendo.
Creio
ter algumas respostas inteligíveis
para estas perguntas, quase todas
provocadas por uma série de conjeturas
sobre como os meios de comunicação
afetam o processo de socialização;
em particular, como a prensa tipográfica
criou a infância e como a mídia
eletrônica a faz "desaparecer".
Em outras palavras, na medida em
que me dou conta do que escrevi,
a principal contribuição deste livro
não reside na afirmação de que a
infância está desaparecendo, mas
numa teoria a respeito do porquê
de tal coisa estar acontecendo."
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DIÁRIO
DA PATETOCRACIA
Crônicas
brasileiras: 1968
José Carlos Oliveira
Depoimento: Wladimir Palmeira
Crônica brasileira
300 páginas - R$ 58,00
ISBN: 85-85277-15-7
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TRECHOS
13
de fevereiro
"Todo
dia um pateta qualquer enfia sua
pata numa peça de teatro e corta
as frases que lhe parecem atentatórias
à moral, aos bons costumes e à democracia.
Não se passa uma tarde sem que outro
pateta dê o ar de sua graça, cortando
seqüências inteiras de
filmes. A Patetocracia não dorme
em serviço."
21
de março
"Esmagado
pelo desalento, ainda me parece
lícito fazer uma pergunta. Ei-la:
o fato de um cidadão ser Presidente
da República lhe dá autoridade para
se intrometer em questões de expressão
artística?"
20
de abril
"A
carga da cavalaria da PM sobre a
multidão encurralada contra a Candelária:
quem não viu? A investida dos soldados
armados de sabres e cassetetes contra
a multidão desorganizada e aterrorizada
na Avenida: quem esqueceu?"
11
de agosto
"Em
Brasília, há crença e confiança
crença e confiança que os
estudantes enraivecidos e os delinqüentes
juvenis não conhecem. Os primeiros,
porque foram lançados na clandestinidade
situação que é geralmente
a de todos os brasileiros desde
que nos foi tirado o direito de
escolher o Presidente da República;
e os outros, os delinqüentes, simplesmente
porque se encontram na base da pirâmide,
razão pela qual só pensaremos neles
daqui a vinte anos, daqui a cinqüenta
anos, quando eles forem numerosos
como ratos, agressivos como ratazanas
bloqueadas pelo perigo."
23
de novembro
"O
que está faltando a este país é
justamente a Ilusobrás, o sonho
fabricado sem escanso, um ópio para
o povo sofrido. O salário mínimo
será de quinhentos contos irreais,
e os ricos ficarão ilusoriamente
mais pobres, como manda o figurino."
27
de dezembro
"E
não esperem que eu escreva sobre
política, pois este não é o meu
gênero."
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O DILEMA MULTICULTURAL
Lorenzo Macagno
Antropologia política – Etnologia
304 páginas - R$ 65,00
ISBN/ Graphia: 978-85-85277-72-7
ISBN/Editora da UFPR: 978-85-65888-86-8
Apresentação: Peter Fry
Prefácio: Michael Cahen
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TRECHOS
"O multiculturalismo, como resposta aos desafios da diversidade cultural (surgidos, de modo geral, em consequência da aceleração dos processos migratórios a partir da década de 1970), assumiu diversas formas institucionais. Alguns autores preferem distinguir entre um multiculturalismo "relativamente integrado" e um multiculturalismo "fragmentado". O primeiro foi estimulado por algumas experiências em países como Canadá, Austrália e Suécia. Já o multiculturalismo fragmentado foi associado à experiência norte-americana, cuja autoimagem nacional se alimentou, em um primeiro momento, do mito do melting pot e, após o fracasso desse modelo, da ideia de uma nação concebida como um "mosaico cultural" e étnico.
Para além das diversas experiências históricas assumidas pelas políticas multiculturais, é difícil conceber uma cidadania multicultural sem avaliar os dispositivos jurídicos que devem acompanhá-la. Ao mesmo tempo, essa avaliação não pode permanecer indiferente ao funcionamento real de cada comunidade, bem como à lógica dos poderes locais que a orientam. Mas, sobretudo, esses dispositivos não podem negligenciar os discursos sobre a alteridade que cada sociedade produz e fomenta, já que as leis não se aplicam a substâncias culturalmente assépticas ou passivas. Ao que parece, como veremos, o multiculturalismo não tem sido absolutamente bem-sucedido no momento de emancipar-se das ilusões etnogenealógicas da nação e do próprio quadro estatal-nacional do qual emerge e no qual opera. Quais são as diversas representações e autoimagens que cada grupo produz e inventa? Quem são os porta-vozes autorizados para falar "em nome de" um grupo? Em última instância, temos que aceitar que as micronarrativas (pós-modernas) de "raça", gênero e etnia operam na arena de disputas materiais e simbólicas, cujas regras são criadas pelas macronarrativas (modernas) dos diferentes Estados nacionais. Poderá o desafio multicultural subtrair-se desse paradoxo?"
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ESCADARIA
DE JADE
Antologia
de poesia chinesa - Séc. XII a.C. / séc.
XIII d.C.
A.B.Mendes Cadaxa (seleção e tradução)
128 páginas - R$ 36,00
ISBN: 85-85277-23-8
Produto momentaneamente indisponível
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TRECHO
"Os
degraus de jade estão cobertos
de geada e as suas pantufas de seda
fina molhadas.
Amanhece, ela reentra, baixa a cortina
diáfana;
Através dela contempla a
lua de outono e espera ainda."
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ESCRITOS
DA MATURIDADE
Lucia
Miguel Pereira
Literatura brasileira - história e crítica
Segunda
edição
360
páginas R$ 62,00
ISBN:
85-85277-51-3
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TRECHO
"Sem
dúvida, o criador necessita do crítico
para ser apreciado, explicado; em
certas circunstâncias, creio que
muito raras, pode inclusive tirar
proveito de suas considerações,
por elas se guiando para aperfeiçoar-se.
Mas é ele quem lhe fornece o tema,
o alimento, a razão de ser. Via
de regra, a critica não passa de
epifenômeno, de superestrutura.
Por
isso é que, por muito engenhosa,
habilidosa e percuciente que seja
nunca será de olvidar de sua condição
subsidiária, nunca se há de mostrar
arrogante, usurpando um primeiro
lugar que não lhe compete. Seu fim
precípuo deve ser afinal, induzir
os leitores a melhor equipados por
suas explicações, conhecer diretamente
as obras de que trata.
Impressionista
ou científica, falhará à sua missão
se não conseguir facilitar a compreensão,
a aproximação dos criadores, ajudando
a descobrir o que, numa leitura
menos atenta, pode permanecer ignorado.
Ora, se assumir ares superiores,
se sobretudo resvalar para o pedantismo,
poderá, ao contrário, dificultar
o contato entre o escritor e o público,
o que redunda numa quase negação
de si mesma."
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OS FANTASMAS TROPICAIS
Bernardo de Mendonça
Posfácio: José Paulo Paes
Literatura brasileira
144 páginas – R$ 50,00
ISBN: 85-85277-53-X
|
TRECHO
"Sonhei ontem que voava.
E voar era mais simples,
mais humanamente fácil
a este exausto e velho corpo
do que nadar ou correr,
ou só sair da cadeira,
ir para a cama e deitar.
Bastava saber possível
(e muito bem eu sabia)
minha presença no ar,
fazendo dos braços asas,
asas tão desengonçadas,
sem a elegância das águias,
mas de movimentos hábeis,
livres de qualquer cálculo
ou sobreesforço ou dor,
como sorrir no espelho
ou beber um copo d’água
ou sonhar o que sonhava.
Certo, era vôo baixo,
entre dez a trinta metros,
não mais, acima do chão,
tanto que aos circunstantes
- filhos, amigos, parentes,
mãe e pai ressuscitado –
convidava a vir voar,
comigo ou em vôo próprio,
e me dispunha a instruir
mas brevíssima era a aula
pois toda a lição cabia
em ter fé na novidade
de que voar é só isso:
abrir os braços, fechar,
sentindo a brisa no rosto,
sem deixar pesar o medo
um milímetro que seja
entre o ser e o estar.
Também é certo que, incrédulo,
era o primeiro a buscar
no vôo o próprio vôo
e o prazer de me sentir
a prova e a contraprova
de, mergulhado na dúvida,
ainda sobrepairar
aos que da rua olhavam
- vendo sem acreditar,
mas vendo perfeitamente
de forma a tornar risível
tamanho altar à descrença –
era tão bom quanto o desfrute
de estar, de fato, no ar.
E vejam lá: passeando.
Não era o herói do dia,
o guardião de um feito,
o obrigado a ser grande:
era só mais um sentindo
onde é mais íntimo o efêmero
porque vale a pena,
quando" |
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FORMAS
DA CRISE
Estudos
de literatura, cultura e sociedade
André Bueno
Literatura - teoria e crítica
348 páginas - R$ 62,00
ISBN: 85-85277-44-0
|
TRECHO
"A
crer nas posições
pós-modernas mais extremadas,
fica parecendo que esse mundo de
simulacros, cópias de coisa
nenhuma, coleção abstrata
de fragmentos históricos
sem contexto, seria o campo inteiro
do real e do possível. Não
apenas, vale notar, projeções
distorcidas ou invertidas do processo
histórico e social, como
a crítica da ideologia cansou
de mostrar, mas como uma espécie
de alienação da alienação,
cegueira da cegueira, da qual seria
impossível tomar distância.
Por essa via, como pensar um sistema
em escala mundial, com muitas determinações,
cruzadas e sobrepostas, que relaciona
as referências locais e gerais,
a mais comum vida de todo dia e
os dados complexos de sistemas internacionais
de poder, na forma de uma totalidade
complexa, contraditória e
móvel? Não seria possível,
é claro, pois o pensamento
pós-moderno tem no conceito
de totalidade um de seus alvos prediletos
e constantes. Desde logo, identifica-se
totalidade e totalitário,
como se todo pensamento crítico,
sistemático e articulado
fizesse uma espécie de terrorismo,
eliminando os dados pontuais e locais,
os particulares sensíveis
que, de fato, precisam ser preservados
da absorção cega num
grande sistema fechado e totalizado,
como expressão do falso,
não do real. O problema,
posto em perspectiva crítica,
seria o seguinte: como manter vivos
os particulares sensíveis,
os dados e qualidades da experiência
mais comum, ao mesmo tempo em que
não se perdesse de vista
o sistema em escala mundial chamado
capitalismo?"
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O
FIM DA EDUCAÇÃO
Neil Postman
Tradução: José Laurênio de Melo
Educação
200 páginas - R$ 55,00
ISBN: 85-85277-43-2
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TRECHO
"A
escolaridade pode ser uma atividade
subversiva ou conservadora, mas
é seguramente circunscrita.
Tem um começo tardio e um
fim prematuro e nesse meio tempo
faz pausa para férias de
verão e feriados e generosamente
nos desculpa quando adoecemos. Para
os jovens a escolaridade parece
inexorável, mas sabemos que
não é. O que é
inexorável é nossa
educação, que, para
todos os efeitos, não nos
dá trégua. Por isso
é que a pobreza é
uma grande educadora. Não
tendo fronteiras e recusando-se
a ser ignorada, ensina sobretudo
desesperança. Mas nem sempre.
A política é também
grande educadora. Ensina sobretudo,
lamento dizê-lo, ceticismo.
Mas nem sempre. A televisão
é grande educadora também.
Ensina sobretudo consumismo. Mas
nem sempre.
É
o ‘nem sempre’ que mantém
o espírito romântico
vivo naqueles que escrevem sobre
escolarização. A esperança
é que a despeito de algumas
das lições mais debilitadoras
da própria cultura se faça
na escola alguma coisa capaz de
alterar as lentes através
das quais a gente vê o mundo;
vale dizer, que a escola não
banalizada proporcione um ponto
de vista a partir do qual o que
é venha a ser percebido com
clareza, o que foi surja como um
presente vivo e o que será
apareça repleto de possibilidade."
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Formação
Histórica do Brasil |
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FORMAÇÃO
HISTÓRICA DO BRASIL
Nelson Werneck Sodré
Posfácio: Emir Sader
História do Brasil
456 páginas - R$ 89,00
ISBN: 85-85277-38-6
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TRECHO
"Há,
como se sabe, uma estreita relação
entre desenvolvimento industrial
e padrão de vida. A defesa
da industrialização,
em conseqüência, é
uma das formas de impulsionar o
progresso de países coloniais
ou dependentes. No Brasil, como
em outras nações,
de estrutura econômica idêntica,
a influência do investimento
estrangeiro tem sido negativa no
que se refere à industrialização.
O nosso desenvolvimento industrial
teve impulso justamente nas fases
em que era nulo ou reduzido o afluxo
de capitais estrangeiros. Quando
esse afluxo cresceu, o desenvolvimento
industrial encontrou obstáculos
consideráveis."
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FORMA,
ESPAÇO, TEMPO
A.
B. Mendes Cadaxa
Poesia brasileira
260 páginas - R$ 56,00
ISBN: 85-85277-25-4
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TRECHO
"Que
buscas tu, vela solitária
Rumo ao mar alto, aberto, imenso?
Traga-te
onda ligeira
Tu, mais ligeira ainda a remontas
Espadanando espuma qual criança
no raso
Brincando com a frol rendada da
mareta.
Vais deixando a ló, num bordejo
só
Ilha esmeraldina em tua esteira,
Mais e mais te somes no horizonte
Horizonte e sonho, mas que sonho?
O
apelo do desconhecido em ti reboa
Não
receias, como a tantos acaece
O sonho de monstros se povoe,
Ouvir em lugar de melodias trenos
À
medida que o abismo à proa
se enegrece?
A brisa te conduz, acalanta
e entorpece
Ah, não te apercebes do nascer longínquo
Da tormenta que já se desenfreia."
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Frei Gaspar de Carvajal volta aos Rios |
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FREI GASPAR DE CARVAJAL VOLTA AOS RIOS
Bernardo de Mendonça
Literatura brasileira
56 páginas - R$32,00
ISBN: 978-85-85277-59-8
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TRECHO
"Um homem resolve ter um grande barco, com
[uma biblioteca dentro dele,
para seguir pelos rios da Amazônia, sem rota nem [destino nem horários,
e, num remanso, no largo de uma tarde, entrar
[dentro de um livro e escapar.
Um homem velho, passado dos sessenta, deixa
[em Minas a casa e a fazenda,
as montanhas, os filhos, os netos, os negócios, [nenhuma mulher ainda o acompanha,
e por semanas, meses, anos e mais anos, flutua
[sobre as águas com seus livros.
Dois deles tinha escrito e ganhou fama, mas os
[que agora sonha, rio após rio,
ficam impressos ao longo do caminho, até que os
[apague a correnteza
e toda memória vaze então pelo fundo sem fim
[de outro silêncio.
Para que escrever agora, que a vida é tão imensa,
[a não ser como escreve o pássaro o seu vôo?" |
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Jogo
de Adivinhar Bicho Invisível |
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JOGO
DE ADIVINHAR BICHO INVISÍVEL
Bernardo
de Mendonça
Ilustrações
de Pinky Wainer
Literatura
Infantil
40
pp - R$ 35,00
ISBN
85-85277-48-3
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TRECHO
"Que
bicho haverá
maior
que elefante
mas que cabe onde
formiga é gigante?
Será
de verdade
uma coisa assim,
fora de medida,
começo ou fim?
(Não
parece estranho
ao
se comparar:
qual é o tamanho
do cheiro do mar?
No
entanto este cheiro
tão grande no ar
cabe no menor peito
que o respirar.)
Pode
alguém pequeno,
menor que um grão
ou ainda menos,
ser também grandão?
Se
não existir
nem em sonho enfim,
se for só mentira,
então, ai de mim.
Nenhum
telescópio
saberá quem seja:
menor
que um micróbio,
maior
que o planeta."
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O LEITOR COMUM
Virgina Woolf
Seleção e tradução: Luciana Viégas
Literatura inglesa - história e crítica
136 páginas - R$ 49,00
ISBN 978-85-85277-54-3
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TRECHO
"Como se deve ler um livro? Em primeiro lugar, quero enfatizar o ponto de interrogação no fim do meu título.Mesmo que pudesse responder sozinha à pergunta, a resposta valeria somente para mim e não para vocês. O único conselho, de fato, que uma pessoa pode dar à outra sobre o ato de ler é não seguir conselho algum, seguir seus próprios instintos, usar suas próprias razões, chegar a suas próprias conclusões. Se concordarmos com isso, então me sentirei com liberdade para expor algumas idéias e sugestões pois não se haverá de supor que sejam cerceamentos à independência, que é a qualidade mais importante que um leitor pode ter. Acima de tudo, que leis podem ser formuladas sobre livros? A batalha de Waterloo sem dúvida foi disputada em um determinado dia; mas Hamlet é uma peça melhor que Lear? Ninguém pode afirmar. Cada um deve decidir esta questão por si. Admitir autoridades, mesmo austeramente engomadas e togadas, em nossas bibliotecas e deixá-las nos dizer como ler, o que ler, que valor atribuir ao que lemos, é destruir o espírito de liberdade que é o oxigênio desses santuários. "
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Leitora
e seus Personagens, A |
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A
LEITORA E SEUS PERSONAGENS
Lucia
Miguel Pereira
Prefácio: Bernardo de Mendonça
Literatura brasileira - crítica
Segunda
edição
388
páginas R$ 62,00
ISBN:
85-85277-52-8
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TRECHO
"Concentração...
como poderá ela existir num mundo
cujo lema é a dispersão, num mundo
sacudido entre estertores de prazer
e de dor, de ódios e de orgias,
onde todos procuram, por todos os
meios, sair de si?
Palavra mais vã ainda é aceitação,
quando a revolta social e individual
imperam, quando todas as cobiças
andam soltas, quando, com a fórmula
do direito à vida se justificam
todos os egoísmos, todas as defecções,
quando a inteligência serve à força
e esta ao instinto.
Nessa
sarabanda infernal, ou o escritor
se isola e perde contato
com a vida ou se deixa arrastar
e se perde a si mesmo. Em
qualquer dos dois casos a falência
o aguarda, sob a forma da repetição
ou da futilidade.
Qual
de nós não alimenta, dentro de si,
o ideal de um livro que nunca será
escrito, de um livro inteiramente
sincero, livre, de um livro gerado
nas raízes da personalidade, carregado
do mistério vital? De um livro que
penetrasse muito fundo na alma dos
homens, e os acordasse do marasmo
em que se
atolam?
Diante
de cada nova obra, pensamos: 'Esta
será a decisiva, a essencial.'
Mas logo sentimos a impossibilidade
de levar avante a empreitada; mil
liames nos tolhem os movimentos,
a sedução da facilidade nos inocula
o seu veneno. E a coragem nos falta.
A nossa literatura, que desconhece
o pudor, é, entretanto, uma literatura
de tímidos."
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|
Literatura
e História no Brasil Contemporâneo |
|
LITERATURA
E HISTÓRIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Nelson
Werneck Sodré
Literatura brasileira - história e crítica
84 páginas - R$ 44,00
ISBN:
85-85277-26-2
|
TRECHO
"Em
várias ocasiões tenho repetido que
um dos aspectos mais característicos
do período republicano de nossa
história é a sucessão de breves
fases de liberdade - sempre relativa,
devemos esclarecer - e longas fases
de arbitrariedade. Esta observação
não cabe para o período monárquico,
pois o regime escravista de trabalho,
então imperante, bastaria para anular
a semelhança. A cultura brasileira
seguiu de perto essa sucessão antagônica.
Conquanto a relação causal entre
o regime político e a cultura seja
complexa e desminta a influência
direta e contemporânea do regime
sobre a cultura , de fato essa relação
causal existe sempre e deve ser
levada em conta, relegado o esquematismo
a segundo plano.
Nosso
objetivo, nessas recordações relacionadas
particularmente com a quarta década
do século, os anos 30, é tentar
reconstruir, em linhas gerais, um
dos períodos de liberdade política
e sua influência no extraordinário
florescimento cultural que aconteceu."
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|
|
O
LIVRO DIVERSO
A
Peleja dos Falsários
Bernardo de Mendonça
Poesia brasileira
80 páginas - R$ 35,00
ISBN: 85-85277-12-1
|
TRECHO
"Os
dois se entreolham
ainda calados:
os olhos de Ascenso,
de dentro para fora,
como de um mirante;
os olhos do outro,
de fora para dentro,
no espelho eterno.
Como contracenam,
um para o outro,
o papel de oposto.
Ascenso, já velho
(com mais de sessenta);
o outro, ainda novo
(não chegava aos trinta).
Ascenso, do alto
de metro e noventa;
o outro, pequeno,
e mais, recurvado.
Ascenso, comendo;
o outro, espiando.
Ascenso, falante,
ator convincente,
de fala serena,
mesmo se empostada,
falando por todos,
no timbre mais alto
e no tom mais grosso,
como um fanfarrão;
o outro em silêncio,
ouvindo no centro
da própria cabeça
o coro dos diabos."
|
|
Longo
Sonho do Futuro, Um |
|
UM
LONGO SONHO DO FUTURO
Diários,
cartas, entrevistas e confissões dispersas
Lima Barreto
Literatura brasileira - biografia
426 páginas - R$ 72,00
ISBN: 85-85277-25-4
|
TRECHO
"Passei
a noite de 25 no pavilhão, dormindo
muito bem, pois a de 24 tinha passado
em claro, errando pelos subúrbios,
em pleno delírio.
Amanheci,
tomei café e pão e fui à presença
de um médico, que me disseram chamar-se
Adauto. Tratou me ele com indiferença,
fez-me perguntas e deu a entender
que, por ele, me punha na rua.
Voltei
para o pátio. Que cousa, meu Deus!
Estava ali que nem um peru, no meio
de muitos outros, pastoreado por
um bom português, que tinha um ar
rude, mas doce e compassivo, de
camponês transmontano. Ele já me
conhecia da outra vez. Chamava-me
você e me deu cigarros. Da outra
vez, fui para a casa-forte e ele
me fez baldear a varanda, lavar
o banheiro, onde me deu um excelente
banho de ducha de chicote. Todos
nós estávamos nus, as portas abertas,
e eu tive muito pudor. Eu me lembrei
do banho de vapor de Dostoiévski,
na Casa dos Mortos. Quando baldeei,
chorei; mas lembrei de Cervantes,
do próprio Dostoiévski, que pior
deviam ter sofrido em Argel e na
Sibéria.
Ah!
A Literatura ou me mata ou me dá
o que eu peço dela."
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Maurício ou A cabana do pescador |
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MAURÍCIO OU A CABANA DO PESCADOR
Mary Shelley
Tradução: Luciana Viégas
Literatura inglesa - ficção
48
pp - R$ 35,00
ISBN
978-85-85277-71-0
|
TRECHO
"Numa tarde de domingo do mês de setembro, um viajante chegou à Torquay, cidade litorânea ao sul de Devonshire. A temperatura era cálida e agradável e as ondas do mar, suavemente agitadas pela brisa, cintilavam sob o sol. As ruas da cidade estavam vazias, pois os habitantes, após irem à igreja, jantavam durante o intervalo entre os cultos: assim o viajante caminhava pelas ruas menores da localidade, em direção ao semicírculo de casas que circunda a enseada, até que parou à porta de uma pousada que tinha a aparência de ser limpa e organizada. Homem de cerca de quarenta e cinco anos, ele era uma figura notavelmente firme, atento e até elegante ao caminhar; seus cabelos eram pretos e encaracolados, ligeiramente caídos nas têmporas; era vistoso, um pouco bronzeado demais e, quando sorria, parecia ser tão bem humorado e gentil que seria impossível olhá-lo sem dele gostar. Nos trajes e nas maneiras, aparentava ser alguém que tivesse conhecido dias melhores mas havia empobrecido; e parecia sério, conquanto não se tivesse abatido pela penúria. Suas roupas, de tecido grosseiro, estavam cobertas pela poeira; vinha a pé e carregava uma mochila afivelada nas costas.
Ele entrou na pousada e, indagando pelo jantar, desvencilhou-se da mochila e sentou-se para descansar ao lado da porta. Neste momento, passou por ali um funeral. Era, visivelmente, de uma pessoa pobre: o caixão, carregado por alguns camponeses, era seguido por quatro carpidores. Três deles, ainda que sérios, demonstravam desatenção e indiferença; o quarto era um menino que tinha por volta de treze anos; chorava, e estava tão tomado pelo próprio pesar que nada observava do que ocorresse perto dele. Alguma coisa na aparência deste menino atraiu a atenção do viajante; e por um momento, quando ele interrompeu o choro e olhou ao redor na direção da porta da pousada, o homem constatou que jamais vira um jovem tão bonito. Virou-se para a proprietária e perguntou de quem era aquele funeral. E quem era aquele menino que o acompanhava?"
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NAS NUVENS
Bernardo de Mendonça
Ilustrações de Aliedo
Literatura brasileira
32 páginas - R$ 32,00
ISBN:
978-85-85277-70-3
|
TRECHO
"Existe um canto, no alto da serra fluminense, que chamavam de Nuvens, porque o céu todo azul era incomum e breve sobre as suas montanhas. Bastavam algumas horas de calor mais forte para o tempo fechar e virem as chuvas, logo depois que a névoa errante, parando o seu cortejo, se juntava e descia até a terra, acinzentando os morros. O sol sumia então completamente, o mundo virava um breu e as águas desabavam. Hoje, os dias se sucedem cada vez mais quentes e ensolarados, e só os antigos recordam o nome do lugar e a sua razão de ser.
Nas várzeas e nos grotões, a mata foi abaixo, transformada em pasto, capoeira, ou em plantações de hortaliças e café, e, por isso, poucos ainda conhecem as plantas nativas e os bichos da floresta.
Ali morava o Manuel, um lavrador, que prometia viver 130 anos como viveram os patriarcas bíblicos. Nos seus últimos dias de vida, costumava andar a esmo, aventurando-se até as cidades vizinhas, longe, cada vez mais longe, nas fronteiras de Minas. Um dia se perdeu, pediu ajuda, e quando perguntaram onde morava, respondeu com convicção:
— Nas Nuvens.
Todos riram, convencidos de que era um velho tantã. Tanto mais insistia, mais debochavam. Penou muito, segundo contava, para se fazer entender, logo ele, nascido e criado nas Nuvens. Esta história também veio de lá." |
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|
O
NEGRO BRASILEIRO
Arthur
Ramos
Brasil - Antropologia
376 páginas - R$ 71,00
ISBN:
85-85277-33-5
|
TRECHO
"O
presente trabalho é o primeiro resultado
de um largo inquérito procedido
diretamente nos "candomblés" da
Bahia, nas "macumbas" do Rio de
Janeiro e nos "catimbós" de alguns
Estados do Nordeste, sobre as formas
elementares do sentimento religioso
de origem negra, no Brasil. Foi
em virtude da minha profissão de
médico legista e clínico, que me
pus em contato, na Bahia, com as
classes negra e mestiça da sua população,
indo surpreender a muito custo e
após tenaz e paciente esforço, todos
os mistérios das religiões negras
e as formas de todo esse cerimonial
mágico- religioso de origem africana.
Transportando-me para o Rio de Janeiro,
fui honrado com o convite de Anísio
Teixeira, para instalar um Serviço
de Higiene Mental nas Escolas do
Distrito Federal. Entre outros afazeres
deste Serviço, pus-me a estudar
a população dos morros do Rio de
Janeiro e por aí, progressivamente
penetrei no recôndito das macumbas
e dos centros de feitiçaria."
|
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OBRA
COMPLETA
Manuel
de Oliveira Paiva
Prefácio: Rolando Morel Pinto
Ficção brasileira
512 páginas - R$ 89,00
ISBN:
85-85277-08-4
|
TRECHO
"O
calor subira despropositadamente.
A roupa vinha da lavadeira grudada
do sabão. A gente bebia água de
todas as cores; era antes uma mistura
de não sei que sais ou não sei de
quê. O vento era quente como a rocha
nua dos serrotes. A paisagem tinha
um aspecto de pêlo de leão, no confuso
da galharia despida e empoeirada,
a perder de vista sobre as ondulações
ásperas de um chão negro de detritos
vegetais tostados pela morte e pelo
ardor da atmosfera. As serras levantavam-se
abruptamente, sem as doces transições
dos contrafortes afofados de verdura.
Serrotas
pareciam umas cabeças de negro peladas
de caspa. Ao meio-dia a cigarra
vinha aumentar a impressão ardente.
Os bandos de periquitos e maracanãs
atravessavam o ar, em busca do verde,
espalhando uma gritaria desoladora,
sem um acento de úmida harmonia,
sem uma doce combinação melódica,
no ritmo seco, árido, torrefeito,
de golpes de matraca. O viajante,
ao caminhar por algum souto de angicos
e paus d'arco, sem uma folha, penetrava
instintivamente com o olhar por
entre os troncos e garranchos com
uma sede, já não de água, mas de
uma notazinha vibrada por goela
de pássaro cantor. Lá uma rolinha,
lá um quenquém, apenas piando.
O
pobre emigrava como as aves, que
vivem ambos do suor do dia. Eram
pelas estradas e pelos ranchos aquelas
romarias, cargas de meninos, um
pai com o filho às costas, mães
com os pequenos a ganirem no bico
dos peitos chuchados tudo
pó, tudo boca sumida e olhos grelados,
fala tênue, e de vez em quando a
cabra, a derradeira cabeça do rebanho,
puxada pela corda, a berrar pelos
cabritos."
|
|
|
OBRA
DISPERSA
Manuel
Antônio de Almeida
Literatura brasileira - coletânea
276 páginas - R$ 56,00
ISBN:
85-85277-03-3
|
TRECHO
"O
tipo hediondamente original dos
nossos mandões de aldeia, essa torpe
idealização da perversidade, perversidade
estúpida, grosseira, esquálida que
traz sob a pressão de suas numerosas
torpezas todo o interior de nosso
país, amparada e sustentada pela
outra perversidade inteligente,
polida, dourada, que de longe a
açula em seus maus instintos para
fazê-la servir a seus fins mais
indireta porém não menos friamente
criminosos, de há muito que devia
ter sido trazida às páginas imparciais
e eloqüentes do romance.
Nos
processos encontram eles juízes
venais, testemunhas perjuras para
inocentá-los nos seus crimes mais
públicos e provados.
Nas
colunas da imprensa diária, abertas
por sua própria natureza à verdade
e à mentira, encontram penas vendidas
para escreverem o panegírico de
sua malvadez.
Na
tribuna, vozes que lhe devem o fôlego,
não se animam a erguer-se para profligá-los.
Pois
bem, o romance que os trouxer em
toda a verdade de sua hediondez
ao tribunal da consciência pública,
será, quando não mais, uma página
de santa vingança."
|
|
|
OBRA
REUNIDA
Teresa
Margarida da Silva e Orta
Ficção brasileira
260 páginas - R$ 56,00
ISBN:
85-85277-06-8
|
TRECHO
"Ao
cárcere dali me encaminharam,
Onde convosco só fiquei, chorando.
A vós os meus suspiros se elevaram,
Só convosco me estava consolando:
A todos perdoei, que aniquilaram
A honra e a verdade, receando
Que nem assim quisessem que eu respire,
Temendo que a verdade ainda transpire.
Preteridas as Leis da Cristandade,
No cárcere fiquei sem Sacramentos,
Os venenos sabendo da maldade
Que junta o seu triunfo aos meus
tormentos:
Não bastava o meu desterro, a Saudade,
A sem razão dos meus abatimentos.
Bárbaro fado meu, por que não basta?
A razão de uns é Mãe, de outros
Madrasta."
|
|
|
OLHOS,
CAPUZES, CORAÇÕES
Antônio
Branco
Ficção seqüestro
96 páginas - R$ 45,00
ISBN:
85-85277-28-9
|
TRECHO
"Sabia
que estava enfrentando a minha prova
de fogo. E, apesar dos pesares,
cada vez tinha mais certeza de que
ia sair outro dali. O que ainda
tinha de infantil, de imaturo, estava
sendo cortado naqueles dias, juntamente
com algumas idéias feitas, muita
coisa preconcebida, que a realidade
ou, pelo menos, aquela realidade,
ia desfazendo.
Vivi
instantes de descobertas, de redefinições
pessoais. O seqüestro era um divisor
de águas na minha vida. Estava debaixo
de um terremoto, no meio de um furacão.
Se escapasse prometia para mim mesmo:
vou parar e começar do zero."
|
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Panorama
do Segundo Império |
|
PANORAMA
DO SEGUNDO IMPÉRIO
Nelson
Werneck Sodré
Brasil
história Segundo Reinado
352
páginas - R$ 62,00
ISBN:
85-85277-21-1
|
TRECHO
"A
marcha da civilização
brasileira, no segundo império,
se caracteriza pela ascensão
e pela vagarosa formação
da classe média, com exclusão
da nobreza agrária, e pela
dissociação da última
camada na escala humana, dissociação
que se inicia a partir da guerra
do Paraguai e que se ultima na abolição.
O passar dos anos vai acelerar a
transmutação: circulação
de elites, substituindo-se a nobreza
latifundiária pela classe
média dos letrados, na urbanização
da vida brasileira. E, também,
pelo contraste curioso que marca,
em cada etapa para a ascensão
do elemento servil, uma etapa na
desagregação do império."
|
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POESIA
DO GRÃO- PARÁ
Seleção
e notas de Olga Savary
Poesia brasileira
524 páginas - R$ 89,00
ISBN: 85-85277-37-8
|
TRECHO
"Pretendi,
no início, reunir apenas uns trinta,
quarenta, no máximo cinquenta poetas
paraenses. Esbarrei no elevado número
de bons poetas e nas sugestões de
conterrâneos ou não, que me indicavam
mais e mais. Assim, o número foi
crescendo, passando de cem, no final.
Tomei algumas liberdades fora do
critério de reservar seis páginas
para cada autor (uma para biobibliografia
e cinco para poemas - o que nem
sempre foi cumprido, democraticamente,
por eu não ter conseguido o mesmo
material de todos os poetas). No
final, tive de "enxugar", reduzindo
geralmente para quatro páginas cada
autor, uma vez que a antologia passava
de quatrocentas páginas. Razões
editoriais. Conservei, no entanto,
tudo de Abguar Bastos, autor de
tão verdadeiro retrato da capital
Belém, síntese do Estado. Privilegiei
os autores nascidos no Pará, porém
não descurei os que se fizeram em
nossa terra, embora nascidos em
outros estados. São assim duas as
partes do livro, em poesia, composta
a primeira de poetas paraenses,
propriamente ditos, que chamei de
"pratas da casa"; e a segunda parte
composta de paraenses honorários,
aqui chamados de "outras pratas".
A liberdade maior, tomei ao incluir,
na terceira parte, ficcionistas
que possuem texto poético: "Ficção-Poesia".
Fica, dessa maneira, representada
a poesia paraense, mesmo a que é
feita na ficção. Sempre afirmei
ser o teor poético dentro da ficção
uma qualidade a mais e jamais defeito.
Estão aí Clarice Lispector e João
Guimarães Rosa que não me deixam
mentir."
|
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PROPAGANDA,
INC.
Vendendo ao mundo a cultura dos Estados
Unidos
Nancy Snow
Tradução: José Laurenio
de Melo
Comunicação de Massas -
Política externa
100 páginas - R$ 45,00
ISBN 85-85277-49-1
|
TRECHO
"A
USIA costuma dar a seu setor particular
de relações externas
o nome de "diplomacia pública",
eufemismo para propaganda. A definição
enciclopédica de propaganda
é "instrumentos de guerra
psicológica que visam influenciar
as ações de seres
humanos por meios que são
compatíveis com os objetivos
do interesse nacional do Estado
que os utiliza". A USIA prefere
a expressão diplomacia pública
ao termo propaganda porque não
quer que o público americano
pense que seu próprio governo
se envolve em guerra psicológica
e porque "propaganda"
nos Estados Unidos é um termo
pejorativo aplicado a manipulação
negativa ou ofensiva, sobretudo
na arena política.
Pensa-se também que propaganda
caracteriza principalmente as odiosas
atividades de regimes totalitários
do século 20, como o nacional-socialismo
ou o comunismo stalinista que utilizavam
métodos sancionados pelo
Estado para distorcer deliberadamente
a verdade. Hoje muitos americanos
consideram que seu próprio
governo e outras democracias ostensivas
como os Estados Unidos em geral
dizem a verdade, menos, evidentemente,
em tempo de guerra ou quando tentam
angariar conversos durante a guerra
fria. Surpreenderia a muitos americanos
saber que seu governo há
muitas e muitas décadas faz
propaganda em seu território
e em outros países."
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RIMAS
José
Albano
Prefácio: Manuel Bandeira
Poesia brasileira
268 páginas - R$ 56,00
ISBN:
85-85277-05-X
|
TRECHO
"Amor
que imaginei, mas nunca tive,
Tão doce enlevo e tão cruel tormento,
Por tua causa choro e me lamento,
Sem que às dores duríssimas me esquive.
Aquele antigo sonho ainda vive
Neste meu coração triste e sedento
E, posto que me seja sofrimento,
Imploro ao Céu que dele me não prive.
Bem, que a males perpétuos me condenas,
Sem a tua presença pura e mansa
As horas vão e vêm, mas não serenas.
De tanto padecer o peito cansa.
Mas entre mil torturas e mil penas
Ainda permanece uma esperança."
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ROMANCE
DA ONÇA DRAGONA
Bernardo de Mendonça
Ilustrações de Pinky Wainer
Literatura infanto-juvenil
40 páginas – R$ 34,00
ISBN 85-85277-46-7
|
TRECHO
"De
cima de uma árvore, um bicho
- acho que uma ouriça (isto
é, um ouriço fêmea,
como dizem que é correto
chamar) - avistou um dia, na beira
d'água, outro bicho (muito
parecido com um jacaré):
- Olá, você, quem é?
- Lagartixa, não vê?
- Com esse tamanhão?
- Claro: lagartixão.
- Quá-quá-quá,
jacaré.
Pois se for lagartixa,
sobe aqui em cima
e me prova que
é.
- Vem você cá embaixo.
- Pra você me comer?
- Deixa disso, sua boba.
Por que vou te
comer?
Gosto de comer mosca,
mosquito ou formiga.
Por acaso é você?
- Não está vendo?
Sou loba.
- Loba? Com todo esse medo?
- E não faço segredo:
tenho medo de
homem,
medo de lobisomem,
até de
jacaré.
- Uiva, então, pra mim.
- Se subir nesse pé,
pode contar que
sim.
- Esqueci o seu nome.
Loba é
que não é.
E não é
ratazana,
nem cachorro ou
gato.
Sei quem é
você:
é um bicho
do mato,
um bicho peludo,
de pêlo
pontudo,
feito porco-espinho,
que se arrepia
todo
ou se finge de
morto
pra se defender.
Chega um tatu. O jacaré
pergunta:
- Seu tatu, me responda,
que bicho é
aquele
que no galho se
esconde:
é raposa
ou é lontra?
O tatu:
- Quem é, não sei
direito.
Mas sei quem eu
sou
e exijo respeito:
tatu é
o senhor.
O jacaré:
-
Que é isso, tatu,
por que está
me estranhando?
Quem é
que fuça o chão,
faz um buraco
fundo
e vai logo entrando,
não é
mais você não?
O
ouriço se mete na conversa,
cochichando para o tatu:
-
Esse jacaré é doido:
diz que é
lagartixa,
mas, ó,
não contraria
que ele vai querer
briga.
O
tatu:
-
Que ele é doido de pedra
qualquer um logo
vê.
Mas me diga, amiga,
quem é
mesmo você?"
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A SAGA DO MENTIROSO
- Uma História da Falsidade
Tradução: Virgínia Marins Cortez
Veracidade e falsidade - História
324 páginas - R$ 58,00
ISBN: 978-85-85277-56-7
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TRECHO
"O tema deste livro é que, para o bem ou para o mal, a mentira, a inverdade, não é um traço artificial, desviante ou mesmo dispensável da vida. A natureza engaja-se nisso, às vezes com uma engenhosidade notável. A arte, falando de belas, imprecisas coisas, algumas vezes dominou tanto a mentalidade de uma época que os pensadores permitiam-se afirmar seriamente que a vida só pode ser verdadeiramente compreendida em termos estéticos. O impulso de transcender o mero fato literal ocorre em toda a natureza. Os organismos biológicos mais simples transmudam para uma aparência diferente da sua, uma representação pictórica de algum outro organismo menos vulnerável. Poderíamos dizer, por exemplo, que as espécies de Cyclopteras, insetos que parecem folhas, obras-primas em trompe-l'oeil que poderiam ter sido pintadas por um mestre holandês do século dezessete, perfeitas em cor, forma e tamanho, com manchas imitando veias e fungos, são obras de arte É uma hipótese sedutora a de que a falsidade esteja do lado da vida, seja o lubrificante que faz a sociedade funcionar, enquanto a verdade pode ser áspera, perigosa e destrutiva; simples demais, nua demais para a complexidade da sociedade do século vinte e um, herdeiro de um dos cem anos mais brutais da história da humanidade. Para sobreviver em tal sociedade, os homens evoluíram, citando Nicholas Humphrey, como psicólogos natos, leitores por natureza da mente alheia, e é essa penetração no pensamento dos outros que capacita os interlocutores a atenuar seus medos e a manipular as outras mentes com os tipos mais sutis de trapaça. A ascensão da Psicologia Evolutiva, a crença nos poderes terapêuticos da ficção, a necessidade de aceitar o que deveria ser verdade como se fosse verdade, tudo tem contribuído para uma tolerância talvez sem precedentes da falsidade.
Friedrich Nietzsche chamava o mundo de cruel, contraditório, enganoso e sem sentido, e concluiu que precisamos da mentira para conviver nessa sociedade abominável. A necessidade vital de mentir é parte do aterrorizante e problemático caráter da existência. Percorremos um círculo completo desde a antiga tese de que verdade e bondade são gêmeas inseparáveis.
A idéia implícita em nossa atitude cultural é de que a humanidade jamais teria conseguido percorrer o árduo caminho até o alto patamar da escada evolutiva em que se encontra hoje se tivesse se submetido à magra e pobre dieta da verdade. " |
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O SÉCULO DE CAMUS
Artigos para jornal – 1947-1955
Lucia Miguel Pereira
Introdução, seleção e notas de Luciana Viégas
Literatura brasileira – crítica
328 páginas – R$ 62,00
ISBN: 978-85-85277-73-4
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TRECHO
"
Depois da guerra de 1914 ainda podia o homem tentar alhear-se ao que em torno de si se passava, abismar-se na contemplação do próprio eu. Depois da de 1939, tal atitude é impossível, já que vemos em toda a parte o indivíduo dominado, sobrepujado, violentado pelos acontecimentos. As cousas as mais surpreendentes ocorrem diariamente, e nem poderiam deixar de ocorrer no caos moral – e em muitos lugares material – em que vivemos. Sendo, não uma cópia, mas uma refração da realidade, o romance tinha que mudar de rumo, de mostrar a criatura humana em luta, não mais tão somente consigo mesma, mas com as terríveis contingências que a esmagam."
Lucia Miguel Pereira, 1948. |
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A
SEDUÇÃO DA CIDADE
Os operários camponeses
e a fábrica dos Lundgren
Rosilene Alvim
Migração rural-urbano - Brasil
216 páginas - R$ 53,00
ISBN: 85-85277-19-X
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TRECHO
"Este
livro trata do processo de transformação
de famílias de trabalhadores de
origem rural em grupo operário,
durante o período de uma geração.
Tal processo implica na inserção
desse grupo em uma forma de dominação
industrial, diferente daquela a
que estavam originalmente submetidos
em áreas rurais.
Estudo
a família e sua constituição em
um grupo de trabalhadores industriais
têxteis de uma fábrica situada na
cidade de Paulista, Pernambuco,
cidade originalmente construída
pela fábrica - a Companhia de Tecidos
Paulista (CTP) e a ela pertencente.
Este processo se caracteriza pela
preferência da CTP pela força de
trabalho de membros familiares,
tendo como conseqüência imediata
a vinda, para a cidade de Paulista,
de grande número de famílias. Chamo
a atenção para o fato de que esta
preferência incide, em especial,
no seio de unidades familiares com
um grande contingente de filhos,
de maneira que as famílias numerosas,
encontradas em diferentes áreas
rurais do Nordeste oriental, são
trazidas diretamente pela fábrica;
esta, ao enviar agentes aliciadores
para aquelas áreas, indistintamente
classificadas como interior, forma
assim o contingente operário de
que a fábrica necessita para a sua
expansão.
A revelação da importância da família
no processo de formação desse grupo
operário, enfatizada pela memória
dos trabalhadores, veio ao encontro
de meu interesse prévio no estudo
da família, de tal forma que pude
conjugar meu objeto de estudo -
antes voltado para análise sincrônica
das relações sociais encontradas
na família diretamente observada,
a família do presente, -com a descoberta
desse passado tão freqüentemente
referido pelos trabalhadores em
questão. A análise do processo de
constituição da família visto a
partir da formação de um contingente
de trabalhadores industriais de
origem rural é, assim, uma das contribuições
originais desse trabalho."
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SEM FANTASIA
Masculino-feminino
em Chico Buarque
Maria Helena Sansão Fontes
Crítica e interpretação - música popular
200 páginas - R$ 55,00
ISBN: 85-85277-45-9
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TRECHO
"a
intensa valorização da mulher na
obra de Chico Buarque transcende
à simples e convencional escolha
do sexo oposto como musa inspiradora
e objeto de exaltação poética. Coexistindo
com essa postura natural que coincide
com a de inúmeros poetas e compositores,
há em Chico Buarque um dado relevante
que o difere dos demais no que se
refere ao tratamento dado à figura
feminina. A análise de textos referentes
à mulher; às transgressões femininas;
à submissão da mulher ao homem;
à mulher no contexto social opressor;
à mulher como elemento injustiçado
cultural e socialmente ao lado de
outros elementos marginalizados
(como o menor abandonado, o operário
ou o favelado) comprova que há em
Chico Buarque simpatia e solidariedade
a esses elementos que o impulsionam
a criar textos ostentando poeticamente
desassombro e inconformismo de natureza
social e existencial."
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O TEMPERO DA VIDA E OUTROS ENSAIOS
G. K. Chesterton
Tradução: Luciana Viégas
Literatura inglesa - cultura contemporânea
192 páginas - R$55,00
ISBN: 978-85-85277-57-4
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TRECHO
"Estou cada vez mais convencido de que nem nos temperos especiais de vocês nem nos meus, nem na corrida ao pote nem ao meio-pote, nem na mostarda nem na música, nem em alguma outra distração da vida, está o segredo que todos procuramos, o segredo de apreciar a vida. Estou absolutamente convicto de que todo o nosso mundo terminará em agonia, a menos que haja alguma forma de fazer a própria mente, o pensamento comum que temos em horas comuns, mais saudável e mais feliz do que parecem ser agora, a julgar pelos romances e poemas mais modernos. Deve-se ser feliz naqueles momentos tranqüilos em que se recorda que se está vivo; não naqueles momentos ruidosos em que se esquece disso. A menos que possamos aprender novamente a apreciar a vida, não apreciaremos por muito tempo os temperos da vida. Certa vez li um conto de fadas francês que expressava exatamente o que digo. Nunca acredite que a inteligência francesa seja superficial; ela é apenas a face brilhante da ironia francesa, que é incomensurável. Era sobre um poeta pessimista que decidiu se afogar; à medida que ele afundava no rio, entregava de presente seus olhos para um cego, seus ouvidos para um surdo, suas pernas para um coxo, e assim por diante, até o momento em que o leitor esperava a declaração de seu suicídio; mas o autor escreve que este tronco inconsciente instalou-se nas margens e ele começou a experimentar a alegria de viver: la joie de vivre. A alegria de estar vivo. É preciso ir fundo, e talvez amadurecer, para saber o quão verdadeira esta história é." |
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OS
TRÊS TEMPOS DO JOGO
Anonimato,
fama e ostracismo no futebol brasileiro
Sérgio Montero Souto
Prefácio: Luiz Mendes
Ensaio teoria da comunicação
112 páginas R$ 45,00
ISBN: 85-85277-32-7
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TRECHO
"Este
livro busca analisar a trajetória
- do anonimato à fama repentina
e dessa, ao recolhimento no ostracismo
- do jogador de futebol, principal
estrela de um negócio que João Havelange,
ex-presidente da Federação Internacional
de Futebol Associado (FIFA), estima
movimentar US$ 250,11 bilhões (Carta
Capital, junho/96).
São seres dotados de uma capacidade
rara, incomum mesmo entre os mais
brilhantes nomes da literatura mundial:
a de fazer multidões, reunidas lado
a lado, separadas apenas pelas paixões
por seus pavilhões, rirem e chorarem
a um só tempo.
Extasiarem-se e desesperarem-se
em frações de segundos. Os responsáveis
pela movimentação de bilhões de
dólares e pela mobilização dessa
carga emocional já suscitaram os
mais diversos adjetivos, não raro
grandiloqüentes: heróis, mitos,deuses...
Essas
nomeações me remetem a autores que
se debruçaram sobre a análise da
geração e do desenvolvimento dos
mitos e o papel dos heróis, em busca
de um suporte teórico para esta
pesquisa. Um estudo comparado entre
os ritos do nascimento dos grandes
heróis épicos e o de craques consagrados
é fundamental para se alcançar uma
compreensão mais profunda do tema.
O caminho seguido foi a análise
do nascimento dos mitos, aplicado
ao caso em estudo, bem como a contextualização
desse universo dentro de uma sociedade
moderna e estruturada de forma tão
desigual como a nossa."
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TRIÂNGULO
ESPACIAL
Guy Pinheiro de Vasconcellos
Ficção científica
316 páginas R$ 60,00
ISBN:
85-85277-22-X
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TRECHO
"A
tripulação da espaçonave
era composta de quatro pessoas,
de diferentes nacionalidades, que
deveriam descer à superfície
do planeta num módulo denominado
Aranha, enquanto a nave interplanetária
que os trouxera da Terra continuaria
em órbita. Uma vez pousado
o artefato, dois dos quatro astronautas
permaneceriam em seu interior ou
nos seus arredores imediatos, enquanto
os outros dois iriam explorar o
alvo indicado.
O local estava assinalado por enormes
esferas, de cor diferente da do
solo da região, formando
em seu conjunto uma flecha indicativa
de um ponto no sopé da montanha.
De onde o módulo pousara
até o objetivo, havia cerca
de quinhentos metros, a serem vencidos
a bordo de um veículo elétrico,
alimentado por baterias solares,
logo apelidado de Inseto, devido
às suas múltiplas
antenas e arestas."
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